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Enxaguantes bucais são seguros para a saúde; não há evidências de que causem câncer

VÍDEOS DISTORCEM CONTEÚDOS DE PESQUISAS CIENTÍFICAS AO AFIRMAR QUE LISTERINE CAUSA TUMOR COLORRETAL; USO DO PRODUTO DEVE SEGUIR RECOMENDAÇÃO DE DENTISTAS

17 jul 2025 - 15h35
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O que estão compartilhando: vídeos alertam sobre a "descoberta" de que o enxaguante bucal Listerine poderia causar câncer no intestino grosso. Citando pesquisas científicas, os conteúdos afirmam que o produto "seleciona" uma bactéria na boca, que vai ao intestino e causa doença.

O Estadão Verifica checou e concluiu que: é enganoso. Cientistas e especialistas em Oncologia e Odontologia afirmaram ao Verifica que não existem pesquisas conclusivas de que enxaguantes bucais podem causar ou aumentar a incidência do câncer. Os estudos citados nas publicações não concluem que o produto traz riscos da doença. Os enxaguantes são seguros para a higiene bucal das pessoas, seguindo a recomendação de dentistas e as orientações para cada tipo de produto.

Saiba mais: Os vídeos que desinformam sobre enxaguantes bucais e câncer colorretal viralizaram nas redes sociais e acumularam mais 250 mil visualizações. Leitores do Estadão Verifica também enviaram os conteúdos para a reportagem por meio de nosso WhatsApp.

A diretora da Sociedade Brasileira de Oncologia (SBOC), Danielle Laperche, esclareceu que não há evidências de que o produto possa levar à doença. "O vídeo traz uma afirmação que não possui embasamento científico. Os estudos citados não correlacionaram o uso do Listerine com a microbiota do intestino e o risco de câncer", explicou.

O professor e especialista em diagnóstico de doenças da boca Celso Lemos, da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (USP), explicou que os estudos disponíveis na literatura científica demonstram segurança no uso de enxaguantes, desde que de maneira adequada, conforme orientações de cada tipo de produto.

"Os enxaguatórios estão disponíveis em vários países com substâncias diversas e mecanismos de ação diferentes, sendo considerados seguros pelas autoridades de saúde médicas e odontológicas", ressaltou.

A doutora em Biociência e Biotecnologia Laura Marise também explicou que não há, até o momento, evidências conclusivas e consenso na ciência sobre a relação dos produtos com o câncer. Em seu canal de divulgação científica, Nunca Vi 1 Cientista, Laura já havia compartilhado um vídeo, em maio, ressaltando que é falsa a informação que circulava na internet sobre o Listerine causar a doença.

Pesquisa da Bélgica não concluiu ligação de Listerine com câncer

Para apoiar as alegações de que o Listerine poderia causar câncer colorretal, os vídeos virais citam estudos científicos. Os especialistas consultados pelo Verifica analisaram as pesquisas mencionadas e afirmaram que os conteúdos da internet extrapolaram as conclusões feitas pelos cientistas.

O estudo publicado em 2024 no Journal of Medical Microbiology e realizado na Bélgica avaliou se o Listerine Cool Mint (enxaguante bucal com álcool) poderia alterar os microrganismos da garganta. A pesquisa fazia parte de uma investigação sobre prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. Foram analisados 64 homens que usavam a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), medicamentos para prevenir a infecção por HIV.

"Os resultados mostraram que, após o uso do enxaguatório, aumentaram na garganta dois tipos de bactérias, que já foram associadas a doenças como câncer de boca, esôfago e intestino, além de infecções graves", disse o professor Lemos. "Apesar da preocupação levantada, há muitos motivos para termos cuidado ao interpretar esses dados", complementou.

Segundo o especialista, o estudo foi feito com um grupo específico e, por isso, o resultado não pode ser aplicado para outras pessoas. Além disso, não foram realizadas amostras da região intestinal ou exames odontológicos, para avaliar a saúde oral dos indivíduos. A pesquisa foi realizada durante três meses, sem controle sobre o uso dos enxaguantes antes e durante o período de testes.

"O estudo traz uma informação interessante, de que o uso diário de enxaguatório específico pode mudar o equilíbrio das bactérias da garganta, mas por enquanto, isso não significa que ele cause doenças", explicou. "Para saber se essas alterações têm algum impacto real na saúde, seriam necessários estudos mais amplos, longitudinais, com diferentes tipos de pessoas, acompanhadas por mais tempo, e que avaliem sinais clínicos e não só mudanças nas bactérias".

Estudo da China é focado em substâncias que poderiam eliminar bactérias ligadas ao câncer

Outra pesquisa citada nos vídeos virais e realizada por cientistas da China, em 2023, tinha o objetivo de investigar substâncias que seriam capazes de eliminar os biofilmes da bactéria oral Fusobacterium nucleatum, associada ao câncer colorretal. O estudo aborda produtos, também presentes na rotina de higiene bucal, que poderiam combater o microrganismo.

A única menção aos enxaguantes no estudo cita componentes do produto que "inibem principalmente a F. nucleatum". A revisão ressalta que "ainda há muitas pesquisas a serem feitas antes das aplicações in vivo" - ou seja, experimentos e testes com organismos vivos.

Segundo a biocientista Laura, "caso o artigo tentasse fazer algum tipo de associação entre enxaguante bucal, seja Listerine ou não, seria no sentido de usar esse produto para combater a bactéria, e não para dizer que usar enxaguante bucal está de alguma forma associado à ela ou ao câncer colorretal".

A oncologista Danielle disse que na verdade o estudo mostra que o enxaguante bucal poderia diminuir a presença da bactéria na microbiota oral. Ela explicou que a Fusobacterium nucleatum não é responsável diretamente pelo câncer colorretal, mas é um cofator, que pode contribuir para a inflamação crônica e resistência à quimioterapia.

"Temos que enxergar que o câncer é uma doença multifatorial. Existem fatores genéticos, ambientais, de padrão de dieta, sedentarismo e também de outras bactérias envolvidas na microbiota intestinal, que podem contribuir para a carcinogênese [processo de formação do câncer]", explicou.

Além disso, a biocientista ressalta que é importante termos cuidado ao interpretarmos resultados de pesquisas científicas, sem o devido conhecimento sobre o assunto. "Somente quando um mesmo resultado é visto repetidamente em estudos independentes é que podemos começar a entender se há um consenso se formando", explicou Laura.

A cientista ressaltou que "um único estudo pode partir de premissas erradas, pode ter sido desenhado de uma forma que não é a ideal para responder à pergunta e, mesmo que tenha sido feito tudo corretamente, não é garantia de que aqueles dados serão reproduzidos por outros cientistas".

Uso de enxaguantes na higiene bucal

O professor de Odontologia da USP explicou que os enxaguantes bucais podem ser indicados, porém eles não são obrigatórios para todos os pacientes. "A maior parte do controle do biofilme de bactérias orais deve ser realizada pela escovação dentária com a técnica e frequência correta, uso de fio dental, escovas interdentais e pastas fluoretadas", disse.

Lemos lembrou que a falta de higiene oral pode levar a danos nos dentes e gengivas, além de problemas, como cárie dentária, gengivite, periodontite, mau hálito, infecções, perda ou comprometimento estético e funcional.

Há estudos que demonstram a relação da falta de saúde bucal com quadros mais graves.

"Doenças cardiovasculares, endocardite infecciosa, piora do controle da glicose em diabéticos, complicações na gravidez, doenças respiratórias, especialmente de pacientes entubados em UTI, artrite reumatoide, má nutrição ou até mesmo desnutrição", citou o especialista.

Estadão
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